
Hoje é domingo. Acordei cedo, mas continuei na cama, meu quarto está escuro, mantive as janelas fechadas.
Sei que lá fora o dia está bonito, mas faz frio, um frio gelado. Por enquanto, quero continuar assim.
Tenho três cobertores por cima de mim e minha cabeça não pára de vagar por aí.
Pensando demais. Lembrando demais.
Fico pensando na definição de família, de amizade, e tudo que vem por trás dessas palavras, as pequenas coisas que as mantém no lugar.
Por exemplo, ser família é uma coisa fácil, você nasce e automaticamente entra pra árvore genealógica, mesmo que você nunca a tenha visto, ela existe. Todos os galhos daquela árvore, mãe, pai, irmãos, tios e tias, avôs, tataravós, e por aí vai, eles são sua família. A herança genética, o sangue, provam que você faz parte de uma família. Mas e a ligação invisível que dá significado pra este nome família? Ela não existe na árvore genealógica, muito menos no desenho ondulado do seu DNA. É a construção social, é a amizade que se forma ao longo do tempo, de colo em colo, de abraço em abraço, são as fotos com os primos, é quando você pode dizer em claro e bom tom que vai chamar seu pai se precisar, é quando depois de um dia muito difícil, o bolo assando no forno libera o cheirinho de fubá quente, enquanto a chaleira já se prepara pra transformar a água fervente em café, as mãos ágeis e amorosas de uma única pessoa a quem você pode chamar de mãe, aquela que mesmo sem saber de nada, sabe tudo. Acho que família vai além do sangue, e ter apenas o sangue não nos torna família. Se a família funciona como uma casa vazia, não há como imaginar um lar, e sem lar, onde pode haver uma família? Acho que família é isso, é ser amigo além de tudo. Os galhos da árvore no final das contas não carregam significado algum.