Fosse o céu de outra cor que não fosse azul, e tivesse o mar a calmaria de um lago, não seria o céu um céu, não seria o mar um mar.
São assim meus feitos, meu jeito, minha forma. Não seria eu se fosse diferente do que sou.
Mesmo que vez ou outra eu queira sim ser o avesso do que sou, não há o que fazer, aceito a forma que tem. Se é de sentir em demasia, que assim seja. Se é de chorar até molhar a face e as palmas das mãos, que assim seja. Se é de rir até criar vincos nas bochechas, que assim seja também.
Se é pra amar sem ter certeza alguma, que ame, e ame mais até que eu e o amor sejamos uma coisa só. E quando existir dúvida sobre quem sou e sobre o que me tornei, que eu consiga enxergar que eu e o amor somos uma coisa só. Não haverá razão que vá me fazer querer ser diferente quando tiver no peito a certeza do que sou, mesmo com dor, se houver amor.
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Você conseguiu entender?
Quando eu falo sobre amor consigo ver o que se passa naqueles olhos brilhantes que me olham de volta, eles acham que falo do amor romântico, o amor entre um casal. Talvez eles pensem que falo sobre um homem vindo me salvar.
Não.
Também acredito no amor romântico. Mas não é só sobre isso. E sobre me salvar, tenho feito isso muito bem.
O amor está em tudo, está no momento em que escolho não ser indiferente, quando me importo com quem não conheço, está na forma como trato os animais e como vejo a natureza, o amor está sobretudo no perdão, quando me ferem e quando eu firo alguém. O amor está na rua quando desconhecidos marcham juntos pelo bem comum, o amor está num cartaz pedindo igualdade e o fim das guerras.
É sobre amor também quando o corpo pesa e ainda assim saio da cama e coloco na cabeça que preciso acreditar em mim.
É amor também quando vou embora.
O amor está em tudo que se vê e mais ainda no que não se vê.
Está na criança andando de mãos dadas com o pai, e no bebê no seio da mãe.
Amor é quando perguntam se cheguei bem e amor também é quando respondo, sim cheguei.
Amor é quando escolho não desejar mal nenhum a quem tanto me faz mal, e é difícil meu Deus, como é difícil. Odiar sempre será a escolha mais fácil. Revidar sempre será tentador. Pisar de volta é atrativo demais. Acredite, amor é a escolha difícil, é um exercício diário, mas que transforma.
Traz luz. Ódio sempre será destruição. Amor é construção.
Tenho reparado em pessoas que entram num ambiente e iluminam tudo ao redor, essas pessoas exercitam amor. Elas fizeram a escolha difícil e devem fazer todos os dias.
Amor é aquilo que os Beatles cantaram em All You Need Is Love em 1967 e que ainda não entendi muito bem. Talvez você também não tenha entendido.
Acho que amor é isso, é tentar mesmo sem entender, é fazer. Sim, faça amor não faça guerra. E aí você entende que é de sexo que estou falando, e eu preciso pedir pra que você tente de novo, tente mesmo sem entender, até conseguir atravessar essa fronteira física e fútil . É sobre amor. Sempre foi sobre amor.
Carta a Clarice
Querida Clarice,
Entendo quando diz que é preciso estar distraído para que as coisas aconteçam.
E talvez por isso não aconteçam, eu presto atenção em tudo.
Amo os detalhes, Clarice.
Amo quando chove, e amo quando a chuva não incomoda.
Reparo os cabelos bagunçados que gosto tanto, e na música que toca no bar, na cor dos olhos e no jeito de andar.
Minha atenção já não é minha.
Se cada passo é observado como uma pintura em progresso, como me distrair?
Como perder de vista o que eu quero guardar?
Talvez por isso é que nunca acontece.
Clarice, eu não sei me distrair.
Queria que você tivesse escrito sobre o amor para aqueles que prestam atenção.
Com carinho,
De mim.
Fases
Na primeira vez foram os olhos que tropeçaram e encabulados saíram de lado, desviando do azul que seus olhos esbanjavam
Na segunda vez foram as mãos atrapalhadas que sentiram nas suas mãos a segurança de um lugar bom
Na terceira vez foram os beijos tímidos de quem tem sede e fome, mas mente, mente devagar que não sente, até não ter mais porque mentir
Nem ter mais porque contar, apenas sente, com os olhos, e com as mãos, com a fome e com a sede, até que a soma de dois seja o resultado da mais pura realização
SP: Feios, apressados, atrasados e sem amor
São Paulo tem um lado frio e cinza, é aquele lado que motiva o Criolo a falar que aqui não tem amor. Ele não tá de todo errado não.
A gente tem pressa, a gente tá atrasado o tempo todo, a gente se esbarra, a gente fica puto com o povo parado do lado esquerdo na escada rolante, a gente quer passar. A gente nem olha pra cara dessa pessoa. “Caceta, olha esse embuste parado na escada”, aí bem de boas, amaldiçoando por dentro, a gente fala baixinho “licença…” E passa correndo.
Quem é que ama com pressa? Ninguém. Quem é que ama quando já passou da hora e só se pensa em chegar no destino, da forma que for?
Em São Paulo a gente corre e fica parado no mesmo lugar, e é cinza pra um lado, cinza pro outro. Não tem coisas bonitas pra ver na Marginal Pinheiros, e até a Marginal caiu. Cara, a Marginal caiu. E tá cheio de CET lá falando pra evitar a região, a gente queria era evitar a região todos os dias, porque é feio. E o que é feio faz todo mundo fazer uma cara feia também, porque além de feios, estamos atrasados. Ninguém quer saber de amor quando tá feio e atrasado.
Mas São Paulo sobrevive, porque até o feio, o atrasado e o apressado uma hora precisam parar, respirar e procurar um verde, um azul, um céu, um chão, um sorriso, e às vezes o apressado, o atrasado e o feio não param nem quando a cidade pede pelo amor de Deus pra ele parar. Aí vai o mundo, manda chover gatos e cachorros, e você continua correndo, e correndo você atravessa a rua e entra como um foguete na estação de metrô, e você esqueceu que tá na hora de parar, a vida te pára quando você se recusa a fazer isso. E foi assim que eu caí bem na estação Faria Lima, cai feito um meteoro, e tive uma crise de riso, um moço de cara feia, que tava puto com alguma coisa, me ajudou a levantar, e ele riu e já não tinha mais a cara feia, e todo mundo riu também porque a gente tava rindo, e num puta dia feio, a galera do meu vagão começou a rir também porque eu não parava de rir, tem horas que o amor em São Paulo chega em forma de tombo e vira riso.
Um conto de fadas e blá blá blá
E do meu sono profundo já acordei faz tempo.
O que será de nós

Não sei o que fazer.
Você também não sabe.
Você também não sabe.
Acreditamos na força do amor, eu com meu coração ferido, e você com seu coração cansado.
Você também não sabe.
Você me diz, escreva. Eu te peço, leia.
Fazemos da arte nosso refúgio.
Memórias
Talvez você se lembre de mim
Quando as mãos dela tocarem seu corpo
Como as minhas mãos faziam
Ou quando morta de desejo
Ela mordiscar seu queixo e sentir assim o cheiro doce da nudez dela,
O cheiro que lembrará o meu, o beijo que se parece com o meu, o cabelo liso e claro espalhado sobre o seu peito, te lembrando os cachos escuros onde seus dedos se emaranhavam, e você vai lembrar que era assim que nossos dedos se enroscavam e eu arrancava de você os últimos suspiros da noite
A mesma noite que agora embala vocês dois, e não nós.
E talvez por isso você se lembre
Porque a moça ao seu lado não tem nada de mim.
Das pequenas coisas
Amor não se procura
Amor não se acha
Amor se faz
Com os olhos
Com os abraços
Com os beijos de bom dia
Com o dia a dia
Com o silêncio a dois
Com os lençóis bagunçados e limpos pelo sexo apaixonado
Com blues tocando no quarto
Amor se faz com os detalhes que a gente quase não vê, mas sente e sente de pouquinho em pouquinho
Por que é assim que o amor vem, bem devagarinho
bom dia
Me dê bom dia com gosto de café da manhã e fruta fresca
Ilumina o quarto deixando a luz do sol entrar pela janela
E antes de sair, guarda a minha saudade no teu abraço
E faz ele apertado que é pra eu sentir teu coração batendo no meu peito
E me solta, solta devagarinho
Que assim eu não esqueço, nem você esquece
Que quando se fala de amor, a gente aperta no peito, mas deixa voar
Deixa ser livre, deixa ir, deixa voltar
E volta, volta sempre que for pra iluminar
Tem alguém aí?

O que fazer com o tempo
De vez em quando faça algo que você queira fazer, perca tempo com algo que você ama e que faça seus olhos brilharem.
A gente já passa mais de 8 horas por dia vendendo nosso tempo pra fazer coisas que temos que fazer, e essas horas entram no automático, e a gente esquece até do que gosta.
Por isso, perca tempo, jogue ele pela janela de vez em quando, mas só se for por amor.
O lado bom
Toda vez que rasgam meu peito, tudo aqui dentro dói.
E toda vez que rasgam meu peito, sai poesia de dentro de mim.
– Soluções
Talvez eu precise mesmo de um novo amor.
Ou talvez eu só precise de um novo corte de cabelo.
Nua
Eu tirei meu vestido e as meias finas que cobriam minhas pernas.
Tirei meu sutiã e a calcinha que ainda cobriam as partes mais íntimas do meu corpo.
Soltei meu cabelo que caiu de uma forma pesada sobre meus ombros.
Meu rosto não tinha nenhuma maquiagem, não havia nada para me esconder.
Quase completamente nua.
Digo quase, porque você só vai me ver completamente quando entender que um corpo é só um corpo, é um receptáculo que carrega muito mais dentro de si, há uma infinidade aqui dentro de mim que talvez você nunca será capaz de ver.
E isso é uma pena.
Me visto novamente e me torno o mistério que você nunca vai compreender.
Sobre o amor e suas dores
Toda vez que eu abro meu coração, toda vez que eu me permito sentir algo e deixo alguém entrar na minha vida, algo dói, algo fica ferido dentro de mim, eu nunca saí ilesa, e acho que nunca vou sair. Talvez amar também seja sobre ficar vulnerável.
Amar talvez seja isso, um parto. Algo que faz nascer, que traz vida e luz, mas não sem antes me fazer gritar, sentir com todos os músculos a dor de partir, de ser deixada, de ser dois, e em algum momento voltar a ser um só.
Fico aqui fazendo as contas de quanto tempo vai levar pra eu desaprender todas as bobagens que me ensinaram sobre o que seria o amor.
– Sobre o que aprendi errado
Se for pra sentir, que seja tudo
Eu poderia contar quantas vezes meu coração foi partido.
Poderia ilustrar quantas vezes eu chorei no caminho de volta pra casa.
Eu poderia até te dizer quantas vezes me faltou o ar enquanto o peito apertava.
Mas isso apenas esconderia todas as coisas lindas que vieram antes da dor.
Cada coração partido quase explodiu de felicidade em incontáveis momentos.
Cada lágrima de tristeza já foi de alegria enquanto eu ria como nunca.
O ar sumia dos meus pulmões enquanto tudo ao meu redor era prazer, lembrando do que Shakespeare diz a respeito, era como deixar a vida e voltar ao corpo em segundos.
A verdade é que existe uma dualidade.
As historias que começam, um dia terminam. E todas elas são histórias.
Há amor, cumplicidade, amizade, tantos bons momentos. E acaba, dói, machuca, o sentimento não sai do peito sem rasgar.
E por tantas vezes achei que não voltaria inteira. Como o pra sempre que a gente insiste em acreditar que existe, há também o nunca mais que é outra ilusão.
Me olhei no espelho e jurei que nunca mais me apaixonaria, nunca mais permitiria que isso acontecesse de novo.
E sabe o que acontece? Me vejo chorando de rir de novo em uma conversa boba, observo todos os pigmentos coloridos da Iris que pertence a uma pessoa só no mundo, conto as pintas que pontilham as costas nuas, e os fios de cabelo desalinhados que se ajeitam nas minhas mãos, gravo na memória a música que toca no quarto, e entendo finalmente que o pra sempre não existe, muito menos o nunca mais. O nunca mais existe menos ainda, a única coisa que realmente existe é o agora, e o agora me faz perceber que não importa o que acontecer com o meu coração, ele se recupera, ele volta mais forte, mais amoroso, mais feito de mim e das histórias que eu vivi. Ele é feito de dor, mas também é feito de amor.