Árvore genealógica

Hoje é domingo. Acordei cedo, mas continuei na cama, meu quarto está escuro, mantive as janelas fechadas.

Sei que lá fora o dia está bonito, mas faz frio, um frio gelado. Por enquanto, quero continuar assim.
Tenho três cobertores por cima de mim e minha cabeça não pára de vagar por aí.
Pensando demais. Lembrando demais.
Fico pensando na definição de família, de amizade, e tudo que vem por trás dessas palavras, as pequenas coisas que as mantém no lugar.
Por exemplo, ser família é uma coisa fácil, você nasce e automaticamente entra pra árvore genealógica, mesmo que você nunca a tenha visto, ela existe. Todos os galhos daquela árvore, mãe, pai, irmãos, tios e tias, avôs, tataravós, e por aí vai, eles são sua família. A herança genética, o sangue, provam que você faz parte de uma família. Mas e a ligação invisível que dá significado pra este nome família? Ela não existe na árvore genealógica, muito menos no desenho ondulado do seu DNA. É a construção social, é a amizade que se forma ao longo do tempo, de colo em colo, de abraço em abraço, são as fotos com os primos, é quando você pode dizer em claro e bom tom que vai chamar seu pai se precisar, é quando depois de um dia muito difícil, o bolo assando no forno libera o cheirinho de fubá quente, enquanto a chaleira já se prepara pra transformar a água fervente em café, as mãos ágeis e amorosas de uma única pessoa a quem você pode chamar de mãe, aquela que mesmo sem saber de nada, sabe tudo. Acho que família vai além do sangue, e ter apenas o sangue não nos torna família. Se a família funciona como uma casa vazia, não há como imaginar um lar, e sem lar, onde pode haver uma família? Acho que família é isso, é ser amigo além de tudo. Os galhos da árvore no final das contas não carregam significado algum.
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Meu amigo

Como se chama o medo de voar de avião?
Algo aconteceu entre 20h e 01h. Foi no meio das gargalhadas que escorriam como riachos soltos, foi quando consegui lembrar que suas íris têm um colorido brilhante, e que suas mãos sempre foram ágeis e inquietas, elas tamborilavam na mesa, foi em cada eu também que você disse e que eu disse, foi o relógio que acelerou cada minuto pra descobrir qual final nos aguardava.
Foi algo que não tem nome, mas que me fez pensar “Por onde você andou esse tempo todo? Onde eu estive? E por que justo agora você vai embora? Não vai, não vai.”.
E você vai.
E poxa.
Que pena. E Que sorte de quem te ganha, seja em qual oceano for. Que sorte de quem te recebe.
Que sorte eu tive.
Meu amigo, boa viagem!

Existe um despertar

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Existe um despertar.
Um relacionamento abusivo é como um sono profundo, e nesse sono profundo eu me sentia presa num pesadelo, que em alguns momentos parecia um sonho maravilhoso. É extremamente instável.
É um sono pesado que não é reparador.
Mas existe um despertar.

E é por isso que eu sou grata pelos dois relacionamentos abusivos que eu tive.
Ambos me ensinaram a urgência que eu tinha em aprender a me amar, a me aceitar. Ambos me colocaram na ponta da prancha, me fizeram saltar direto para o meu processo de autoconhecimento. Um processo longo e contínuo. Eu caí direto num vazio que tinha meu nome e sobrenome.

O que eu posso dizer é que tive sorte.
No momento em que eu achei que estava só, me afundando na escuridão, meus amigos esticaram suas mãos, me tiraram de lá a força. Todos eles esfregaram na minha cara a importância que eu tinha pra eles, e como era importante eu enxergar minha própria importância. Eu não saí dessa sozinha.

Reafirmei meu gosto musical, fiz maratonas de filmes em casa e no cinema, andei de bicicleta por quase todos os cantos da zona sul de São Paulo, fui a shows sozinha e acompanhada, fiz e tenho feito tudo que eu sempre tive vontade de fazer, me soltei das amarras, comecei a perceber que altruísmo é lindo, mas não no amor romântico, no que se trata de um casal, é necessário uma troca justa, é preciso amar e ser amado.
E mesmo numa situação casual, ambos precisam se sentir valorizados.

Hoje eu sou capaz de reconhecer meu valor.
Hoje eu consigo olhar pra mim e entender que existe uma mina incrível dentro desses olhos.
Hoje eu me amo o suficiente pra saber quando alguém me trata mal, quando não estão me dando o devido valor, hoje eu tenho a força que eu não tinha antes, a força que teria me feito levantar com dois pés firmes até a porta e dizer , “ok, vá à merda, não preciso disso”.

Então, se você acha que está num relacionamento abusivo, ou se você acabou de sair de um relacionamento assim, saiba que existe um despertar, e há algo lindo dentro de você. Você só precisa deixar isso sair, e não deixe que ninguém mais te tranque.

Hoje eu não sou mais quem eu era antes, e a menina que eu era com certeza tem um puta orgulho da mulher em que me transformei. E não há passos para trás, agora o caminho é pra frente, e a vida é maravilhosa demais pra ser feita só de histórias tristes.
Agora que eu me encontrei, eu não quero me perder nunca mais.

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