
É importante crescer.
É importante crescer.
Foram alguns anos no curso de inglês ouvindo repetidamente esta frase “improve yourself”,a voz que dizia isso era a mesma voz que anuncia as estações do metrô da linha amarela ~in english~.
Tentei ser melhor no inglês. Troquei ideia com gringo via Skype, fazia as lições, às vezes com certa má vontade, mas fazia. Comparecia às aulas, faltei algumas vezes, mas marcava a reposição e comparecia. Improve yourself.
Meu grafite 0.7 sempre fortemente marcado deixava hieróglifos nas folhas corrigidas. Improve yourself. Ouvia uma palavra. Entendia outra. Ouvia de novo, não fazia sentido, aumentava o som, entendia um pouco, apertava os olhos e voltava pro começo, aquela luz branca da compreensão se acendia em alguma parte do meu cérebro e eu descobria que minha música favorita era na verdade uma grande porcaria. Que decepção. Improve yourself.
E é essencialmente errar querendo acertar. E acertar, por que não?
Já me sentei ao lado de idosos compenetrados no desenlace dramático de filmes baseados em histórias reais, de casais namoradeiros tão apaixonados quanto eu, com olhos marejados vendo romances lindos e impossíveis, assim como o deles, eles só não sabem disso ainda (suspiros sincronizados), de crianças sem medo de rir alto com uma cena boba de animação que enche meu peito de nostalgia, já me sentei ao lado de gente reclamona, de gente cheirosa, de gente com a mesma camiseta de banda que eu, já dividi a poltrona com tanta gente que talvez uma delas até seja o rapaz tão esperado, talvez a gente só não tenha se apresentado
E agora fica quieto que meu filme favorito tá apenas começando.
O que acontece quando dormimos? Será que durante o sono nosso cérebro concede a liberdade para a alma?
Eu tenho a impressão que sim. Sou tão grata pelo mundo dos sonhos que tantas vezes me salva da realidade.
Foi em sonho que visitei os lugares mais lindos, foi em sonho que sobrevoei a cidade usando asas invisíveis, e foi em sonho que ganhei os beijos impossíveis.
Muitas vezes sonho com situações absurdas, outras vezes fico na dúvida se foi sonho ou realidade. Abro os olhos pela manhã com a sensação de ter provado uma fruta doce, ainda consigo sentir o gosto na ponta da língua, um gostinho doce e levemente ácido.
Meu corpo clama por sonhos porque a realidade é dura demais, é rasa demais, as pessoas têm pressa, correm, se esbarram, morrem de medo da imersão no sentir. A Vida de olhos abertos chega a ser quase uma passageira, e é por isso que eu fecho os olhos, é por isso que sonho, pra me sentir viva. É pra ter na ponta da língua o gostinho doce e ácido de viver, eu sonho porque o que eu gosto mesmo é de sentir, é de viver
Hoje eu pesquisei imagens da Holanda no Google. Holanda, o país, sabe? Pois é. Lá faz bastante frio. O país das tulipas. Uma mais linda que a outra. Campos inteiros só de tulipas, de todas as cores.
Eu fecho os olhos e consigo me imaginar andando entre elas, com cautela, com amor, completamente deslumbrada pela riqueza de detalhes, desde a luz do céu até o chão coberto de flores.
Eu nunca gostei de flores envoltas em plásticos, nunca achei que fosse justo com elas. Pense nessas flores que foram cortadas, arrancadas, as flores que choram são as flores que ganhamos de presente. Como se flor fosse presente, flor é paisagem. O presente é a paisagem.
Me lembro de flores que ganhei.
Um bouquet de rosas que só pude deixar em casa e correr pro hospital, o quarto todo ficou cheirando a velório. Que tristeza aquelas rosas. E assim como as rosas, aquele amor também se foi.
Mas me lembro com mais dor no coração das pobres tulipas. Lindas e tristes.
As tulipas que mereciam um país frio num campo repleto de irmãs tulipas, foram parar justamente aqui no Brasil, em São Paulo, num vasinho solitário dentro do meu quarto. Mais uma morte certa.
Veja bem, não tenho nada contra as flores. Na verdade eu as amo. Mas as amo ali, no campo, no jardim, onde elas nascem, são tocadas pelo orvalho da manhã, pela garoa fina, onde elas enxergam as tempestades, onde suas folhas ficam bem verdinhas, onde as borboletas pousam e as abelhas sapateiam, gosto delas ali, recebendo o calor e a luz do sol, com vida, trazendo alegria pra quem as vê, pra quem as sente. Amo as flores que nascem, vivem, morrem e renascem. Por que é assim que funciona quando elas estão onde deveriam estar, o ciclo continua, é um destino muito melhor que um vaso solitário dentro de um quarto.
A gente nunca pensa nisso, mas as flores no chão são flores livres.
Pode ser que ter dado errado tenha sido o melhor que poderia ter acontecido.
Às vezes acontece da gente planejar tudo, organizar as coisas na cabeça, montar uma lista com tudo que a gente quer, e aí, de repente, tudo muda. Sua cabeça vira uma bagunça, sua lista agora é inútil.
Se enxergar no meio do caos, sem planos, sem nem imaginar qual será o próximo passo é assustador. Eu senti isso.
E fiquei assim, assustada. Até que eu notei que o estar no controle é uma ilusão. As coisas continuarão acontecendo independentemente da minha vontade.
E o que eu fiz? Dancei conforme a música. Disse mais SIM. Só disse não quando queria dizer não. Fiz e pensei depois, por que antes eu não fazia e ficava pensando depois, era bem pior. Troquei o nome da lista de Planos para Sonhos. E pra minha surpresa, alguns já se tornaram realidade,e minha intuição diz que muitos outros sonhos se tornarão realidade também.
Só sei que sou mais feliz assim, deixando a vida acontecer, aproveitando cada instante, tendo histórias pra contar, histórias que nunca foram escritas, simplesmente aconteceram.
Ninguém sabe, mas me tornei uma estudiosa, uma cientista, o objeto da minha pesquisa se chama Abraço. Sim. Decidi experimentar todo tipo de abraço possível, estar nele por inteira pelo tempo que durar.
Tem o abraço de pernas entre lençóis bagunçados, com música baixinha, duas pessoas em silêncio, é o tipo de abraço que faz tudo valer a pena. É a ilusão de existir apenas duas pessoas no mundo, aquelas duas dividindo os lençóis, a cama, o sexo, o amor.
Tem o abraço da mãe, que mesmo sem dizer, ou até dizendo, ele serve pra que você saiba que todo amor do mundo é seu e é ela quem te dá.
Inefável
Algo que não se pode explicar com palavras.
A primeira vez que vi o sol nascer. Assistir o céu ganhando cor como se alguém pincelasse com agilidade e delicadeza, dar cor ao mundo que há pouco tempo era pura escuridão.
O primeiro beijo. A sensação de existir apenas duas pessoas no mundo, imaginar que o tempo parou e que os pés estão suspensos enquanto algo totalmente novo acontece, aquela sensação que nunca mais se repete.
A copa do mundo, o hino nacional, a camisa verde amarela, o aperto no peito, o grito de gol, o pentacampeão!
A noite no Rio de Janeiro e no som do carro Motorhead.
O passeio de volta pra casa, mãos dadas no banco de trás e no som do carro Semisonic.
Amar.
Ser amada.
O cheiro do café pela manhã pra acordar, cafuné a noite pra dormir.
A primeira vez no cinema, o primeiro filme, Mulan.
Uma multidão cantando Imagine com Eddie Vedder no Morumbi. Fazer parte desta multidão.
Escrever os sonhos num papel, olhar para o mesmo papel e ver que alguns já se tornaram realidade.
Tudo isso que é inefável e eu nunca vou conseguir explicar.
A sensação única de um momento tão especial, como se eu sentisse o sol nascer muitas vezes, e todas dentro de mim. O universo me colorindo com tudo o que me faz feliz.
Essa noite não vou dormir.
Vou sentar no meu telhado, jogar uma manta no colo, vou fechar os olhos e ouvir o som da noite.
Quero ver as estrelas, vou contar todas que puder, vou jurar que algumas delas são planetas onde um dia eu possa morar.
Vou me imaginar sentada na lua, pintando a terra numa tela pequena. As coisas da noite não são coisas do dia. Nem as criaturas, nem os cheiros e os sons. E se eu tiver sorte, nem as dores.
Por isso, nesta noite não vou dormir. Vou deixar o tempo passar e com ele vou fluir, aqui, no telhado com uma manta, onde as estrelas brilham só pra mim, no silêncio que me diz que as coisas da noite não são coisas do dia, decido acreditar que quando a noite se for, e finalmente dormir, as estrelas continuarão brilhando dentro de mim.
A gente torce para os olhos não se encontrarem, e eles se encontram
Retornam encharcados
Afogam-se uns nos outros
A gente torce para não sorrir
E quando se dá conta já não se ouve mais nada além do riso
A gente evita o toque, e aí percebe que na mão já existe outra, e além da mão há uma conexão, um lugar onde o sangue corre, onde o coração bate
O mesmo coração do abraço apertado nos lembra, que pelo menos por alguns instantes, duas pessoas podem ser uma só
E é só aí que a gente entende que não há o que possa ser evitado quando ainda há o que sentir
Sinto falta de andar de mãos dadas
De deitar a cabeça no peito
De fechar os olhos enquanto o mundo se agita
Sinto falta do cheiro de menta
Dos cabelos curtos entre meus dedos
Do hálito fresco e dos olhos nos meus olhos
Ódio dói bastante. Ofensa dói bastante. Tudo que é ruim dói mais, tudo que é negativo dói mais.
E só dói porque essas coisas gritam, berram, usam um auto falante terrível.
E o amor é diferente. É silencioso e acalentador.
Como pede Mário Quintana, o amor ama baixinho, deixa em paz os passarinhos, o amor é o refúgio que a gente encontra pra se esconder de tudo que grita e escurece a alma. Não dói, e se dói, não é amor.
É possível que a gente passe uma vida inteira se perguntando o porquê de tanta coisa.
O porquê de não ter tido o paizão que todo mundo teve, ou de até não ter tido um pai.
O porquê de tanta batalha perdida numa guerra sem fim por um lugar no mundo, quando alguns nem sequer suam ao se levantar.
O porquê do medo de perder e assim ter mais medo ainda de se entregar.
O porquê de apesar de todo o bem feito, o mal parece prevalecer.
Poderia ser uma vida inteira apenas me perguntando, vendo o sol nascer e se pôr, e nascer de novo e se pôr. E é vendo o por do sol e o nascer do sol, que eu entendo que apesar de tudo, ele ainda nasce e se poe, e ainda é uma das coisas mais lindas pra se ver, e sempre será. Apesar de todos os porquês. O sol ainda é o sol, a lua ainda está lá no alto mesmo quando não a vejo, a terra ainda gira, ainda chove, ainda neva em algum lugar, e eu, apesar de todos os porquês, também estou aqui, e de alguma forma faço parte de tudo isso, continuo a nascer e a me por.
26 anos já é uma vida. Mesmo assim, muito ainda está por vir, assim espero.
Nessa jornada muito louca eu aprendi algumas coisas. A mais importante de todas é: Sei muito pouco.
Já é ótimo.
Há alguns anos eu achava que sabia muito. E achar que sabemos muito é uma merda.
Tomei consciência que estar perdido faz parte, a maioria de nós também está. Comecei a entender que algumas buscas devem ser feitas dentro de mim. Apesar de ser muito confortável ter alguém pra me guiar, e me levar de mãos dadas para o seu próprio mundo que eu tomava como meu, chegou a hora de deixar de ser a alienígena, e me encontrar no meu planeta mãe. Entendi o quão importante é ter identidade. E ela é responsável por muitas coisas, como por exemplo, meu gosto por filmes, a forma como me expresso, como arrumo meu cabelo, meus amigos e as pessoas com quem converso. Tudo é um reflexo da minha própria identidade.
Senti que um dia eu não conseguia mais me reconhecer, não conseguia me identificar. Olhava no espelho e não via mais nada de mim naqueles cabelos lisos, no estádio de futebol, no tênis de corrida, nas amizades superficiais que nem amigos eram mesmo, nos piores dias não recebi uma ligação de quem eu julgava meu amigo.
Comecei as mudanças aos poucos. Fui me descobrindo. E foi incrível. Existia uma pessoa completamente nova dentro de mim, uma pessoa que estava lá o tempo todo e que eu escondia, pois pensava muitos nos Outros. Os Outros podem ser tão terríveis na nossa vida quanto foram em Lost. É preciso saber colocar limites. E estou aprendendo.
Aprendi que amo andar de bicicleta e odeio correr. Aprendi que amo meus cabelos do jeito que eles são, enrolados, sem medo de água e umidade (praia sem restrição era um sonho que se tornou realidade), aprendi que os amigos de verdade vão me acompanhar na cerveja no dia 05, me falarão a verdade mesmo que doa um pouco, e estarão ali também no fim do mês, com a carteira fazendo eco, emesmo depois de um tanto de tempo sem contato, amigos não mudam quando a gente se muda, serão os mesmos.
Identidade é tudo. Se reconhecer nas suas ações é tudo. Se respeitar é tudo.
Ter a resposta quando me perguntam quais são meus sonhos não tem preço, porque sei quais são e sei também que eles podem mudar.
Entendi que aqui nas redes sociais cada um é apenas uma pontinha de um iceberg, assim como eu. E o que é mais importante, aquilo que realmente faz a diferença, se isso vence todo este mundo raso num piscar de olhos, então estamos indo muito bem.