
Quando você mora em casa, você se acostuma com as pessoas que moram na mesma rua que você, você se acostuma com o bairro e com a rotina dele, se acostuma com o pessoal dos pequenos comércios, com os cachorros nas garagens que brincam com você sempre que você passa na frente da casa deles, ou latem enfurecidos e você já sabe que aqueles são bravos, talvez os donos também sejam. Quando você ainda vai aos lugares fazer compras, você se acostuma com os rostos, você conhece as pessoas sem saber os nomes delas. O segurança do mercado, a moça do caixa rápido que sempre pergunta se você vai querer sacola, o pessoal da casa de ração que sabe melhor sobre a rotina dos seus pets do que você, e seus pets também se acostumam com eles.
Talvez essas pessoas também tenham se acostumado com você, e quando você entra nos lugares, também sentem que te conhecem sem nem saber seu nome. Você da bom dia pra essas pessoas, diz obrigado, dá tchau. E amanhã vai ser tudo igual. Hoje o moço da vidraçaria me falou que o carteiro que fazia entrega aqui na rua, o “Branquinho”, como ele mesmo falou, morreu. É uma pena, a gente ficou triste. Não tem jeito. Eu lembro dele chamando aqui no portão. Quantas vezes me entregou coisas que eu esperei com ansiedade. Presentes de amigos, livros, quadrinhos, minha pulseira que vem escrito here comes the sun, a camiseta que eu dei pra minha mãe com a estampa 6 e ônibus do Tramontina, tudo isso que eu recebi com alegria. Eu acho que todas as vezes que nos vimos, os dois estavam sorrindo. O correio vai continuar vindo, a gente, sabe, mas a gente também sabe que vai ser outro carteiro. Acho que é isso, a gente pode nem saber o nome das pessoas, mas a gente se conhece, a gente se vê, e quando elas não estão mais aqui, elas fazem falta.