Seu cavaquinho

Tirei uma foto do cavaquinho, assim, bem de perto.
Não sei tocar nenhum instrumento, não sei cantar.
Mas agora tenho um ukulele, um cavaquinho e um violão.
Por muito tempo disse que nunca tinha perdido ninguém próximo, e que não sabia como era isso.
Recentemente minha vó foi embora, e é muito estranho… Ainda não sei dar nome pra isso. O que é estar de luto? É uma dor ramificada, porque outras pessoas perderam a mesma pessoa, alguns perderam uma mãe, uma esposa, uma amiga, e até o gatos perderam quem cuidava deles. Como meu vô disse “Depois de mais de sessenta anos juntos, como a pessoa deixa de existir assim?”.

Preciso ser forte porque também preciso ser apoio, e receber apoio, e dar apoio de volta. A vida segue o caminho que deve seguir.
E vai embora também uma parte da história dela, da minha própria história. De coisas que ela lembrava e eu não, de momentos que ela viu, e eu não vi.
E eu fico aqui com tantas perguntas. Minha vó foi embora e me fez lembrar da minha infância. Me fez lembrar do quintal dela, da casa antiga que não existe mais, das plantas, dos gatos que ela sempre teve, do meu vô sendo o ponto de equilíbrio. Acho que a gente pode amar muito, e não saber como. Acho que a gente pode sentir demais, e não saber lidar. Acho que a gente pode fazer um milhão de perguntas e acabar assim, sem resposta. A vida continua, de todo jeito e toda forma. E aí eu olho pro cavaquinho que ela não sabia tocar, e que eu também não sei tocar, e penso que talvez a gente pode fazer só isso, apenas amar. Mesmo sem saber. Que a gente pode só sentir, e sentir, e mesmo assim, sem saber como e porquê.

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