
Numa noite depois do trabalho, só queria ir pra casa.
Fui apressada para o ponto de ônibus, farol aberto para os carros, farol fechado pra mim.
Observei o ônibus que eu deveria pegar indo embora.
E quando o ônibus passou, vi que do outro lado da rua, esperando o farol fechar, estava Nando Reis.
Farol fechado pra ele também.
Eu amo Nando Reis.
Quem não ama Nando Reis?
Tenho certeza que ele deve ter uma coleção de caderninhos em casa cheios de música e poesia, listas de compras, pensamentos soltos, rabiscos, letras completas e inacabadas, talvez até desenhos.
Naquela noite eu fiquei feliz pelo atraso, pela inconveniência do trânsito, pela partida de um ônibus que me deixaria em casa meia hora mais cedo.
Nando Reis atravessou a rua, não existe ninguém com ele. Ele é ele só, e só ele é Nando Reis. Com aquela barba ruiva, os cabelos em caracóis também ruivos, os óculos com lentes transparentes, dois fãs um par.
E eu vi que era Nando Reis , meus olhos vibraram.
Com uma ousadia que às vezes me falta, disse:
– Nando, eu posso te dar um abraço? – Ele olhou pra mim com um sorriso que eu nunca vou esquecer.
– Claro!
E eu dei o abraço, e quando você dá um abraço, você também ganha ele de volta. Eu ganhei um abraço de Nando Reis. Já com o coração pulsando de alegria, além de toda vida que corria no meu corpo, pude dizer com uma verdade que não poderia ser contida – Nando, eu te amo!
E nessa hora ele soltou uma risada bonita, divertida. Eu também estava sorrindo.
Fui esperar o próximo ônibus, e acho que essa é a única vez que me lembro tão bem de um ônibus que perdi.