
Ressignificar, tenho pensado muito nisso.
Se você tiver sorte, e eu espero que tenha, suas memórias não serão apagadas.
O jeito como você vai lembrar delas é que vai mudar.
Como ressignificar algo que dói? Tempo. Só o tempo mesmo. Não adianta enjaular, precisa deixar sair, precisa sentir, e deixar ir.
Lembro quando vi essa foto pela primeira vez, achei tão linda. Acabei encontrando essa foto de novo enquanto folheava um livro numa livraria. Além de lembrar da foto, lembrei do dia, do momento, do cheiro do lugar onde eu estava na primeira vez que a vi. Fiquei imaginando a cena, o casal se beijando na frente do cinema, o nome do filme em destaque, me contaram que não foi armação. Me contaram que foi um momento verdadeiro capturado pela lente rápida de um fotógrafo de rua. Poderia ter passado batido. E poderia ter passado batido por mim também. Se não fosse a primeira vez, talvez veria essa foto num livro e não sentisse nada, nem teria me chamado a atenção, talvez eu mudaria de página tão rapidamente quanto o click de Joel Meyerowitz. Talvez eu nem conseguiria ver a beleza que hoje eu vejo.
Fechei o livro, o devolvi para o seu lugar. Imaginei que poderia ser um lindo presente. Alguém com certeza vai dar de presente, alguém com certeza vai ganhar.
E acho que no final precisa ser sobre isso. Sobre o que foi, sobre o que já não é, e sobre deixar vir o que tiver de ser. Ressignificar pode ser bonito também.