Devagarinho e de repente

Eu passaria uma tarde inteira sentada no ponto de ônibus dessa avenida.

Veria os carros que vêm e que vão. Veria pessoas andando, correndo, passando de bicicleta. Gente carregando sacolas do mercado, gente sorrindo, gente cantando desafinado a música que ouve nos fones de ouvido, veria gente chorando também, sempre tem alguém chorando em São Paulo.

Veria um casal rindo e se abraçando com ternura, o que me faria ter vontade de ser amada. E veria outro casal discutindo, o que me faria ter vontade de aprender a me amar.

Sei que teria um cachorro viralata abanando o rabo pra mim, e eu faria carinho nele, por alguns segundos eu me esqueceria de tudo ao redor. Se existe magia, ela está nos animais.

Ficaria sentada nesse banco, mesmo se ninguém mais passasse, mesmo que eu não visse nem gente nem cachorro. Esperaria o sol se pôr ali atrás dos prédios. Veria as cores indo embora pouco a pouco e ainda assim tão rapidamente, é assim que o sol vai embora, devagarinho e de repente. Devagarinho e de repente.

Sentada no banco, com os pés firmes no chão, as mãos segurando meu rosto, os cotovelos apoiados nas coxas já doloridas, pensando nisso sem parar: Eu sou alguém que alguém vê sentada no banco, assim como eu vejo quem insiste em passar.

Devagarinho e de repente. Tudo passa. Sempre vai passar.

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