Anjos

Tem isso de não chamar pelo nome as coisas que as pessoas temem, como se fosse culpa do nome a coisa ser como é.

Nunca tive o costume de rezar, mas as pessoas que tinham esse costume sempre me diziam, antes de dormir, reze para o seu anjo da guarda. E eu nem sabia que tinha um anjo e muito menos como rezar.
Queria um nome, e por ser famoso, escolhi Gabriel. Gabriel sabe que não sei rezar, sempre soube. Deito na cama, meus olhos ficam olhando o escuro e por vezes não digo nada, por vezes só quero dormir, e dormir seria minha única oração. Gabriel sabe, e sinto que ele não se importa.
Quando criança cismei que tinha um amigo invisível, acho que foi mais fruto de um filme que eu vi do que da minha própria imaginação, e cismei também que esse meu amigo ficou preso na construção da casa do vizinho. Meu amigo sem nome atrás de uma janela numa casa incompleta. Como foi parar lá eu não sei.
E acho que foi ali que findou a amizade.
E tem Gabriel, o tal anjo famoso.
Não sei se podem acumular funções os seres celestiais, mas caso sim, é dele também a incumbência de me guardar. Eu que não sei rezar, e gosto de nomes, não tenho medo dos nomes das coisas, tenho medo delas em si, e agora olhando o escuro, ainda sem saber rezar, quero acreditar que existe um Gabriel, e que ele vai me guardar mesmo sem saber como se reza para um anjo da guarda, mesmo que eu só me deitei pra dormir.
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