São 10h da manhã, e do quarto eu consigo ouvir as crianças brincando na rua.
Da minha janela consigo ver a cruz que anuncia a existência de uma igreja na rua de cima.
Meu quarto é meu santuário.
Ouço as risadas vindo de fora, ouço meus pensamentos.
Não tenho o tipo de fé que leva uma pessoa a ir até uma igreja, se ajoelhar, juntar as palmas das mãos e rezar com todas as forças pra que Deus mostre um caminho.
Meu silêncio é minha própria igreja, e é assim que eu peço a Deus, ou a alguma força do universo, que me ajude, pois em dias assim nem eu sei que tipo de ajuda eu preciso.
Só sei que preciso.
Escuto minha respiração, indo e vindo.
Com a ponta dos dedos percebo que minha pele é quente, e que tudo sempre esteve aqui, mesmo quando eu me sentia tão perdida.
Esse tipo de sentimento me lembra o dia em que me perdi da minha mãe num supermercado na seção de verduras. Segui o conselho dela “se um dia você se perder de mim, fique no mesmo lugar, eu vou te achar”, – mãe, eu estou aqui no mesmo lugar, acredito em você, eu também vou me achar.
E ainda lembrando da infância, sentia muitas dores nas pernas, principalmente na hora de dormir, minha mãe dizia que era a dor do crescimento. Doeu tanto e eu fiquei só com 1,58m.
E quando o meu coração dói assim, quando minha cabeça fica rodando e meus olhos se enchem d’água em dias como hoje, eu digo pra mim mesma, é a dor do crescimento.
Estou crescendo.
Viver é isso, não é?
E os dias bons, os dias bons valem por tudo isso.
Eu acho que já está na hora de sair.
Meu quarto está claro, mas lá fora o sol brilha muito mais.
Meu coração de leão vai me levar longe, eu sei.