São Paulo tem um lado frio e cinza, é aquele lado que motiva o Criolo a falar que aqui não tem amor. Ele não tá de todo errado não.
A gente tem pressa, a gente tá atrasado o tempo todo, a gente se esbarra, a gente fica puto com o povo parado do lado esquerdo na escada rolante, a gente quer passar. A gente nem olha pra cara dessa pessoa. “Caceta, olha esse embuste parado na escada”, aí bem de boas, amaldiçoando por dentro, a gente fala baixinho “licença…” E passa correndo.
Quem é que ama com pressa? Ninguém. Quem é que ama quando já passou da hora e só se pensa em chegar no destino, da forma que for?
Em São Paulo a gente corre e fica parado no mesmo lugar, e é cinza pra um lado, cinza pro outro. Não tem coisas bonitas pra ver na Marginal Pinheiros, e até a Marginal caiu. Cara, a Marginal caiu. E tá cheio de CET lá falando pra evitar a região, a gente queria era evitar a região todos os dias, porque é feio. E o que é feio faz todo mundo fazer uma cara feia também, porque além de feios, estamos atrasados. Ninguém quer saber de amor quando tá feio e atrasado.
Mas São Paulo sobrevive, porque até o feio, o atrasado e o apressado uma hora precisam parar, respirar e procurar um verde, um azul, um céu, um chão, um sorriso, e às vezes o apressado, o atrasado e o feio não param nem quando a cidade pede pelo amor de Deus pra ele parar. Aí vai o mundo, manda chover gatos e cachorros, e você continua correndo, e correndo você atravessa a rua e entra como um foguete na estação de metrô, e você esqueceu que tá na hora de parar, a vida te pára quando você se recusa a fazer isso. E foi assim que eu caí bem na estação Faria Lima, cai feito um meteoro, e tive uma crise de riso, um moço de cara feia, que tava puto com alguma coisa, me ajudou a levantar, e ele riu e já não tinha mais a cara feia, e todo mundo riu também porque a gente tava rindo, e num puta dia feio, a galera do meu vagão começou a rir também porque eu não parava de rir, tem horas que o amor em São Paulo chega em forma de tombo e vira riso.