– Às vezes parava de chover e as estrelas apareciam. Aí era bonito. Como no mar, um pouco antes do sol ir dormir. Tinha milhões de pontinhos de luz na água. Como aquele lago na montanha. Era tão claro que parecia que tinha dois céus, um em cima do outro. E no deserto, quando o sol nascia, não dava para ver onde terminava o céu e começava a terra. Era tão lindo.
– Você estava.
Não quero saber quantos países você já conheceu, e quais foram os hotéis onde você ficou hospedado.
Quero saber o que você sentiu quando provou um prato típico, quero saber se você se sentiu totalmente perdido e mesmo sem falar uma palavra do idioma nativo alguém conseguiu te ajudar, quero saber se a terra lá era vermelha e se você pisou descalço, me conta se o céu era tão azul quanto o nosso, quero saber se você dançou de alegria ao pisar pela primeira vez num lugar onde você só andou em sonho, quero que você me conte o que te emocionou, o que te fez repensar algo que estava guardado no fundo da memória, quero saber se ao mergulhar no mar alheio você percebeu que no fundo somos todos um só, quero que você conte os cheiros que te transportaram de volta pra casa numa noite que era só saudade.
Dos seus carimbos não há nada que me interesse, o que eu quero de verdade, só poderei saber se você deixar a viagem tocar também seu coração.
Seja menos polícia federal, seja mais Forrest Gump. Eu prometo que vou lembrar disso quando baterem o primeiro carimbo no meu passaporte.